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terça-feira, 27 de novembro de 2012

O massacre acabou?




Tendo sido "revogada" a decisão que expulsava os índios guarani-kaiowá de suas terras, as campanhas de solidariedade aos indígenas estancaram, dando a impressão de que tudo está correndo bem, o que não é verdade se analisarmos algumas poucas notícias das diversas que são publicadas na web mas que não recebem devida atenção, sendo talvez até tratados como “casos isolados” pela mídia burguesa.

Afinal de contas, a luta dos índios acabou, amenizou, ou continua aguda?

Pistoleiros atiram contra índios guarani-kayowá no Mato Grosso do Sul
Para responder isso com maior clareza, devemos levar em conta que desde o momento em que os colonizadores europeus (portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, e holandeses) tomaram posse de vastos territórios do continente americano, empreenderam um grande processo de saqueio, opressão e genocídio contra os povos nativos, ou melhor, os povos indígenas. Para se ter uma noção, os nativos que habitavam a ilha onde atualmente é a República Dominicana e a República do Haiti acabaram extintos.

A escravização dos índios e a destruição de seus costumes através do envio de missionários católicos (jesuítas) , e protestantes serviu e no caso do envio de missionários, continua a servir como ferramenta de destruição da identidade cultural dos indígenas em todo o continente Americano. Para perpetrar esses atos infames, tanto os colonialistas usavam como argumento “civilizar os povos bárbaros e trazer conforto espiritual”, quando na verdade traziam miséria, exploração e doenças ainda não conhecidas pelos indígenas.

Com a “independência” gradual das colônias na América, a política de segregação foi mantida pelos governos reacionários. Para se ter outra idea, até os começo dos anos 20 os índios estadunidenses não tinham cidadania reconhecida pelo governo.

Essa política genocida vem se arrastando por mais de 500 anos em todo o continente americano, os exemplos de resistência dos indígenas estão gravados na história do nosso continente, principalmente na figura de Tupac Amaru.

Tupac Amaru, líder da rebelião dos índios peruanos contra a dominação espanhola no final do século XVIII.
Na atualidade essa luta continua a se arrastar, e alguns lugares de forma um pouco mais organizada, como adesão por parte dos índios à guerrilha revisionista mexicana EZLN (Ejercito Zapatista de Liberación Nacional), ao Partido Comunista do Peru (Maoísta) e seu braço armado (Ejercito Popular de Liberación).

Combatente indígena do EPL no Peru.

Mas o que desencadeia essas lutas?

O que desencadeia isso é a luta por terras. É uma árdua luta entre indígenas e camponeses pobres contra latifundiários e grileiros respaldados pelos políticos e pela polícia desse podre regime burocrático-burguês.

 A mídia geralmente mostra os índios como sendo violentos, selvagens, extremamente supersticiosos e fechados, quando na verdade ocorre o contrário, é um povo bom, heróico, talvez até mais “civilizado” do que os chefes da TV Globo, Band, SBT ou Record. Quanto aos posseiros, sempre são mostrados como “agricultores ameaçados” ou pela “violência dos índios” ou pelos “sem-terra”. São na verdade latifundiários tiranos, coronéis em pleno século XXI, usando de influência na política para utilizarem a polícia e bandos de jagunços com a finalidade de roubar as terras dos índios. São conflitos que se estendem de norte a sul do país.

Segundo informa o jornal A Nova Democracia no artigo intitulado “Índios: latifúndio segue matando e invadindo”:
“Conforme o último relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) ocorreram 41 casos de invasões possessórias e de exploração de recursos naturais em áreas indígenas no período 2008/2009. As invasões foram cometidas por "pecuaristas, agricultores e grileiros" (boa parte fazendeiros e grandes empresários, segundo outras fontes).
Madeireiras e garimpeiros retiraram ilegalmente de terras indígenas bens lucrativos como pedras preciosas, ouro, cascalho e areia. Os casos ocorreram nos estados do Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina e Tocantins.
O estado com o maior número de casos (8) foi Rondônia. O relatório do Cimi registrou invasão de terras indígenas por fazendeiros, exploração ilegal de madeira, retirada de areia e construção de obras. Sublinhou ainda que o próprio gerente de Rondônia, Ivo Cassol, ocupa 80% do território tradicional do povo Wayurú.
Mato Grosso apareceu com 7 casos (entre desmatamento, exploração ilegal de madeira, invasão por fazendeiros, poluição de rios por agrotóxicos e pesca predatória). "Isto não surpreende, visto que o Mato Grosso tem registrado os piores índices de desmatamento em consequência da expansão de monoculturas, sobretudo de soja, que requerem, além de espaço, uso intensivo de agrotóxicos", afirmou o documento do Cimi.
No período foram anotados 16 conflitos relativos aos direitos territoriais dos índios: Bahia (2), Ceará (4), Maranhão (1), Mato Grosso (1), Mato Grosso do Sul (1), Pará (1), Rondônia (5) e Santa Catarina (1).
O relatório apontou que em 9 casos a causa principal "foi a morosidade das autoridades na regularização das terras indígenas".
O documento apontou outros 37 casos de omissão e morosidade na regularização das terras. "A Funai não atende às demandas das comunidades indígenas. Há demora na demarcação e algumas vezes até paralisação do processo", disse Roberto Liebgott, vice-presidente do Cimi.
Os índios enfrentam outro problema mesmo quando a homologação oficial é realizada: a retirada dos invasores. A área Apyterewa dos parakanãs, no Pará, é um exemplo. A terra foi homologada, no entanto mais de 1.200 fazendeiros e madeireiros continuavam no local, no período 2008/2009.
Outro caso foi o da comunidade dos tupinambás, que foi expulsa de forma violenta de uma área que havia retomado, porque a Funai não cumpriu o prazo estipulado pelo Tribunal Regional Federal para finalizar o relatório de identificação das terras.
Houve, por outro lado, 7 conflitos provocados pela construção de obras, como um centro turístico e um porto no Ceará. Em Rondônia, obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da gerência Luiz Inácio, não levaram em conta os impactos aos chamados Povos Isolados (Obs: grupos indígenas ainda sem contato com os brancos), colocando em risco sua sobrevivência. Foi o caso da hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, e do asfaltamento da BR-429, que liga os municípios de Presidente Médici e Costa Marques.”
Estes conflitos entre indígenas e gente ligada ao governo burocrático-burguês resultam em assassinatos contra os índios. Este parágrafo do artigo (Índios: latifúndio segue matando e invadindo) publicado no jornal A Nova Democracia dá uma clara noção das baixas e do resultado da violência nas zonas rurais:

“Segundo o relatório, 60 indígenas foram assassinados no país. Outras fontes informam que muitos deles foram por mando de latifundiários.

Desse total, 42 vítimas eram guaranis, que pertenciam ao subgrupo dos kaiowás, do Mato Grosso do Sul. As outras mortes foram cometidas no Maranhão (3), Minas Gerais (4), Alagoas (2), Pernambuco (2) e Tocantins (2).”
O governo fecha os olhos propositalmente para com os povos nativos, matando-os através das armas, ou deixando-os morrer  lentamente devido a doenças que poderiam ser facilmente tratadas. Segundo informou o CIMI (Conselho Indigenista Missionário) em um relatório publicado em 2011, apontou que 126 crianças indígenas de 1 a 4 anos, a maioria da tribo xavante , morreram em decorrência de doenças “facilmente tratáveis”, tudo isso por mera negligência das autoridades do regime submisso ao imperialismo. O número de crianças mortas foi maior do que o ano anterior (2010) com 92 mortes.

A necessidade da organização para êxito das lutas

Índios Mudruku com armas capturadas das forças de repressão.
Os apelos das fundações de apoio aos índios em quase nada resolvem os problemas, que são agravados pelas invasões de terras por parte dos latifundiários e até do próprio governo.

Basta de chacinas e opressão contra os povos indígenas. A solução deste problema encontra-se apenas na resistência organizada contra os ataques perpetrados pelos agentes do velho estado. Esta resistência só pode lograr êxito se estiver organizada de forma sistemática, quer dizer, deve dispor de um braço político, um braço armado que sirva para autodefesa e uma frente que reúna elementos solidários à causa dos índios, colonos e meeiros, ameaçados pelo latifúndio e seus bandos armados (desde jagunços até tropas da Força de Segurança Nacional, verdadeiros jagunços do regime reacionário).

Temos total certeza de que um plano de metas e táticas bem definidas poderá sem dúvida alguma fazer o povo oprimido das cidades, campos e tabas*, construírem um Novo Poder, um Novo Governo que possa servi-los e não mais servir aos gringos imperialistas e aos burgueses donos do poder.

*NOTA: a palavra “taba” no dialeto tupi-guarani significa aldeia.

 ABAIXO AO LATIFÚNDIO!

ABAIXO AO ESTADO BUROCRÁTICO-BURGUÊS!

ORGANIZAR A RESISTÊNCIA INDÍGENA E CAMPONESA!

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