Em meados da década de 30, principalmente o mundo ainda sofria os
efeitos da grande crise de 1929-33, uma das maiores crises do século XX. O
fascismo ameaçava o mundo todo com a sua belicosidade, e seu caráter
extremamente reacionário sustentado pelo imperialismo e pelas oligarquias em
todo o mundo.
A Itália havia acabado de subjugar a Etiópia (outubro de 1935), os
alemães enviavam agentes do partido nacional-socialista para a região sul e
sudeste do Brasil, o governo de Getúlio Vargas estava conseguindo apoio da Ação
Integralista Brasileira, uma organização de cunho fascista, da qual o povo
brasileiro desmascarou e apelidou de “Galinhas Verdes” devido a cor do uniforme
que os integralistas usavam. Ao mesmo tempo o governo de Getúlio Vargas se
aproximava da Alemanha e Itália, tendo recebido empréstimos e até armamento
entre os anos de 1934 a 1941.
Nesse contexto, onde os fascistas se organizavam com o apoio do governo,
surge a Aliança Nacional Libertadora, organização de massas ligada ao Partido
Comunista do Brasil, com uma proposta coerente para a construção de um governo
capaz de suprir as necessidades básicas das massas de operários e camponeses,
direitos mínimos que a revolução de 1930 que colocou Vargas no poder não foi
capaz de realizar.
O ano de 1935 também foi um ano proveitoso ao movimento proletário
mundial: na China o Partido Comunista junto com as massas atravessou 12 mil km,
lutando contra todo o tipo de adversidade, enfrentando com êxito todos os
petardos desferidos pelos senhores feudais até as tropas nacionalistas de
Chiang Kai Shek.
Outro fato importante que fortaleceu o movimento revolucionário mundial
em 35 foi a realização do VII Congresso da Internacional, onde o camarada
Georgi Dimitrov apresentou a linha revolucionária para o estabelecimento de uma
frente unida antifascista, que já vinha sendo discutida desde o ano anterior. A
idéia da frente unida antifascista mostrou-se correta, sendo colocada em
prática por vários partidos comunistas ao longo das décadas de 30 e 40.
Sob esta correta orientação, foi estabelecida no Brasil em março de 1935
a ANL, Aliança Nacional Libertadora, que reunia os elementos mais progressistas
da sociedade brasileira da época, desde as massas de operários e camponeses,
até militares, comerciantes, funcionários públicos, etc. O nome de Luís Carlos
Prestes foi aclamado para presidir a organização, pois na época, Prestes gozava
de imenso prestígio adquirido durante a Coluna que percorreu os lugares mais
esquecidos do Brasil entre 1925 e 1927, além do fato de Prestes ter aderido ao
PCB no início dos anos 30.
A ANL era uma organização progressista, lutava pela soberania nacional,
pela melhora do padrão de vida das massas pobres,e pela educação como mostra a
lista das reinvindicações da ANL:
1. Não pagamento nem reconhecimento das
dívidas externas;
2. Denúncias dos tratados antinacionais com o
imperialismo;
3. Nacionalização dos serviços públicos mais
importantes e das empresas imperialistas que não se subordinem às leis do governo popular
revolucionário;
4. Jornada máxima de trabalho de oito horas,
seguro social (aposentadoria etc.), aumento de salários, salário igual para
trabalho igual, garantia de salário mínimo, satisfação dos demais pedidos do
proletariado;
5. Luta contra as condições escravagistas e
feudais de trabalho;
6. Distribuição entre população pobre,
camponesa e operária das terras e utilização das aguadas, tomadas sem
indenização aos imperialistas, aos grandes proprietários mais reacionários e
aos elementos da Igreja que lutem contra a libertação do Brasil e a libertação
do povo;
7. Devolução das terras, arrebatadas pela
violência, aos índios;
8. Pelas mais amplas liberdades populares,
pela completa liquidação de quaisquer diferenças ou privilégios de raça, de cor
ou de nacionalidade, pela mais completa liberdade religiosa e a separação da
Igreja do Estado;
9. Contra toda e quaisquer guerras
imperialistas e pela estrita união com as Alianças Nacionais Libertadoras dos
demais países da América Latina e com todas as classes e povos oprimidos.
10.Educação Pública.
Como pode ser visto, o programa da ANL atendia as necessidades básicas
das massas do Brasil, ao contrário do governo fascista de Getúlio Vargas que
apesar de ter dado alguns direitos, por outro lado não passava de uma tentativa
de mascarar o regime semifeudal, oligárquico e submisso aos interesses do
imperialismo. Prova disso foi o fato dos comitês da ANL terem se expandido para
quase todos os estados do Brasil, chegando a contar com 1,5 milhão de
militantes!
Com os elementos fascistas cada vez mais presentes no governo, a ANL foi
posta em ilegalidade em julho do mesmo ano, o governo afirmou utilizou a
desculpa de que a ANL estaria tramando “um plano comunista para tomar o poder”,
os agentes do governo fascista logo trataram de perseguir a militância e os
dirigentes da organização, sendo enquadrados na “Lei de Segurança Nacional”,
acusados de “subversivos” e “agentes vermelhos a soldo do estrangeiro”. Assim,
nos meses seguintes e sob perseguição, a organização passou a operar na
ilegalidade.
Naquele ano o país estava sendo abalado por greves em diversas cidades,
no campo os camponeses já se organizavam em grupoos de autodefesa ou entravam
para os bandos dos cangaceiros. Não tardou muito para que o PCB compreendesse
que havia chegado a hora de se levantar
contra o governo opressor e construir um governo democrático,
revolucionário e popular. Luís Carlos Prestes, que na época era dirigente da
ANL, ignorando a orientação da IIIª Internacional, sobre iniciar a luta
revolucionária através do campo para cercar as cidades, acreditou que seu
prestígio como ex-dirigente tenentista iria despertar os militares de baixo
escalão para moverem um golpe militar contra o governo.
De qualquer forma, a ordem de insurreição foi dada em novembro de 1935,
e no dia 23 os soldados, cabos e sargentos do 21º BC em Natal-RN se levantaram,
o povo também uniu-se aos revoltosos que travaram duros combates contra a
polícia local. Com os reacionários derrotados em Natal, o movimento se expandiu
para as cidades vizinhas, nas palavras do grande dirigente comunista Pedro
Pomar : “instaurou-se naquele dia o
primeiro governo popular revolucionário da história do país’’.
A cúpula do governo popular que tinha sede em Natal-RN ficou constituída
da seguinte maneira: o sapateiro José Praxedes ficou encarregado do
aprovisionamento, o sargento Quintino Clementino de Barros ficou encarregado
para a defesa, o estudante João Galvão ficou encarregado da viação, e o
funcionário dos correios e telégrafos José Macedo ficou encarregado das
finanças. Percebe-se aí a principal característica de um governo popular: um
governo formado por pessoas comuns, por gente que conhece de perto os
problemas, e não pessoas da elite, que temem ao povo e desconhecem ou evitam
lutar contra os problemas relacionados às massas.
No dia 24, o 29º BC aquartelado em Recife levantou-se contra o regime
fascista, porém, as tropas do governo sufocaram o levante revolucionário.
No dia 27 de novembro, as tropas do 3º Regimento de Infantaria e a Escola de Aviação no Rio de Janeiro se
levantaram sob o comando de Agildo Barata, comandante do primeiro regimento do
Exército Popular, que infelizmente iria renunciar abandonar o movimento
proletário em 1957.
Após 10 horas de duro combate, as tropas do 3º R.I. se capitularam
perante as tropas governistas. No mesmo dia
o governo popular revolucionário, instaurado em Natal acabou
desmantelado devido a ofensiva do governo.
Fachada do 3º R.I. após os combates |
Os remanescentes do levante no nordeste foram para o interior, onde
lutaram contra as forças de repressão através de uma guerra de guerrilhas.
Infelizmente como os nossos camaradas não tinha experiência nesse tipo de
combate além do erro por parte do CC em não aprender com a experiência chinesa
da época, o movimento cessou.
Membros do comitê revolucionário detidos em Natal. |
Apesar do levante ter durado apenas 4 dias, foi a primeira vez em que
tentou-se estabelecer o poder popular no
Brasil, foi uma experiência grandiosa, pois, mostrou as deficiências do
movimento comunista revolucionário do Brasil, ao mesmo tempo em que se pode
compreender efetivamente a necessidade de um governo que sirva aos interesses
das massas de trabalhadores e que o único caminho para a construção do poder
popular é através de revolução.
HONRA E GLÓRIA AOS HERÓIS DO
LEVANTE NACIONAL-LIBERTADOR DE 1935!
CONSTRUIR O PODER POPULAR,
IMEDIATAMENTE!
VIVA A LUTA DE LIBERTAÇÃO DO POVO
BRASILEIRO!
HONRA E GLÓRIA AO PARTIDO
COMUNISTA NO BRASIL!
Este artigo foi baseado em "A Gloriosa Bandeira de 1935"
Camaradas, 35 foi um erro horroroso do Prestes! revolução naõ é mero golpe armado. Não se esqueçam de que ele virou revisionista e depois fez autocrítica fraca.
ResponderExcluirÉ claro que houveram erros no levante de 35, justamente na questão do levante armado. Temos ciência de tudo isso, por isso mesmo foi postado o link com o artigo onde Pedro Pomar explica os erros e acertos da ANL.
ExcluirPara entender com maior claridade o levante de 35 é indispensável a leitura do texto "A Gloriosa Bandeira de 1935", escrito pelo grande dirigente comunista Pedro Pomar.
Também fizemos a crítica contra Prestes que foi postada no blog, o título do artigo é: "O cavaleiro do oportunismo".