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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O caráter da Revolução Brasileira

O legado do Camarada Manoel Lisboa só se concretizará com o cumprimento das tarefas por ele defendidas!

“6. Do ponto de vista tático o campo é mais importante do que a cidade para os revolucionários, porque o aparelho de repressão do inimigo é mais débil nas áreas rurais e tem dificuldades de nelas penetrar. Nessas condições, observando o princípio de superioridade relativa de concentrar contra o inimigo forças duas ou três vezes maiores em todas as ações concretas, é possível através da guerra popular derrotar por partes os “gorilas”. por isso a guerra popular também é prolongada. Prolongada por que no inicio da luta o inimigo é taticamente forte e as forças populares são débeis. Somente é a guerra que pode inverter os papeis tornando o inimigo débil e as forças armadas populares fortes. Essa mudança acarreta o controle de amplas zonas rurais pelas forças armadas populares dando em conseqüências o “cerco da cidade pelo campo”, compreendendo cidade onde o inimigo é ainda taticamente forte, pois ai localiza-se seus quartéis e bases. Nas atuais circunstâncias, dentro de um ponto de vista regional as grandes cidades e capitais do Nordeste são “cidade” enquanto que o resto é “campo”. De um ponto de vista nacional, a área industrial de São Paulo, compreendendo as cidades satélites do ABC, Santos e Rio de Janeiro formam o conjunto que podemos chamar de “cidade”, sendo o restante “campo”.
(Carta de 12 Pontos)

Muitas são as forças políticas que se debatem cotidianamente para assumir a vanguarda da luta popular e direcionar as massas do povo para uma mudança revolucionária. Porém, esta dispersão e fragmentação provoca também confusão e desconfiança nos espíritos mais débeis. A maioria realmente não sabe o que fazer. Acabam por defender a esperança por dias melhores confiando no momento da “grande crise”. Sabemos , pelo conhecimento da lei fundamental de desenvolvimento histórico do capitalismo, que as crises virão. E muitas crises já existiram na história do capitalismo. Muitas revoltas e rebeliões se sucedem ao longo da história. Porém, em particular no Brasil, estas revoltas nunca se transformaram em uma mudança revolucionária. O Brasil nunca passou por uma revolução democrático-burguesa. A história recente do nosso país demonstra que os anseios do povo sempre , de fato, foram apropriados por forças oposicionistas que tentam promovê-los dentro dos marcos da institucionalidade burguesa. Uma cultura de conformismo e de confiança no aparelho do Estado Burguês acabou se desenvolvendo. A superação destes limites tornam-se cada vez mais difíceis, ao mesmo tempo em que as lutas dentro dos marcos da legalidade burguesa tornam-se cada vez mais obsoletas. Vivemos uma época de guerra comercial internacional. A burguesia brasileira entra em contradição com o poder dos bancos e do capital financeiro. Sufocada, já não pode ceder muito aos trabalhadores, e agora vem investindo na tentativa de eliminar direitos trabalhistas já conquistados com a finalidade de tornar-se mais competitiva ante o ataque do capital imperialista, principalmente norte-americano. A luta sindical cada vez mais vem se burocratizando e os avanços são mínimos, quando não praticamente nulos. Os trabalhadores já não confiam nos sindicatos, e a expressa maioria mostra sérias desconfianças face a sindicalização. As forças da esquerda ainda põem fé na mudança pela via parlamentar. Porém, torna-se cada vez mais evidente que sem alianças vergonhosas com os antigos poderes que dominam o Estado Burguês, absolutamente nada é conquistado para os trabalhadores. Vivemos a esmolar favores de nossos velhos usurpadores. A situação é desanimadora. Diante disto, temos duas alternativas: analisar dialeticamente o capitalismo brasileiro, entendendo seus pontos fracos e atuar sobre eles ou render-se aos interesses da burocracia oportunista que hoje prega a desesperança, o ceticismo e políticas de conciliação com os velhos inimigos.
A segunda alternativa, se analisarmos os diversos exemplos no Brasil e no mundo, tem demonstrado não ser um caminho adequado para preparar as forças de vanguarda para assumir a liderança. Acostumados as mesmas práticas institucionais, não são capazes de se reinventar e, mesmo em momentos de graves crises, certamente não serão capazes de liderar qualquer movimento insurrecional. O povo se revoltará e tomará as ruas, mas com uma vanguarda despreparada e sem contar com um exército popular, cairá sob o fogo da reação e sob concessões fraudulentas da classe dominante. É nesse momento, que devemos resgatar com toda impetuosidade e ousadia, o legado revolucionário de um dos maiores combatentes de nosso povo: Manoel Lisboa de Moura. 
 
Em sua Carta de 12 pontos, o camarada Lisboa adverte , dentre outras coisas, para o espaço que de fato é o ponto nodal dos embates entre o povo e a burguesia: o campo. Sua atualidade permanece impressionante. O Brasil é um país que, sem uma revolução democrático-burguesa, vem ascendendo entre as economias capitalistas com base na velha forma colonial: uma economia agro-exportadora baseada no latifúndio, e na venda para o mercado externo de gêneros primários. Esta situação permanece a mesma, e tem se agravado, na medida em que o capitalismo nacional se torna cada vez mais dependente do agro-negócio. As forças de esquerda, concentradas nas cidades, não conhecem a realidade do campo, onde é diária (quase caindo na banalidade) a violência brutal contra os agricultores, o desrespeito aos direitos humanos, a escravidão (literalmente) e a compra de terras de pequenos produtores por latifundiários a preços irrisórios. O avanço do latifúndio (sancionado pelos forças oportunistas hoje no poder) garante a continuidade de um condição secular nas relações de propriedade que, no campo, ainda não conheceu um avanço democrático em qualquer sentido. Cada vez mais torna-se evidente, que não se pode resolver o problema da terra no país dentro dos marcos da legalidade burguesa. O que quer dizer que os camponeses constituem preciosa reserva para a concretização da política revolucionária em nosso país. É preciso que acordemos para esta verdade, superando os velhos debates e discussões bizantinas que constantemente entretém a intelectualidade progressista brasileira. As condições para a revolução EXISTEM em nosso país, no entanto, é preciso que a vanguarda consciente para os trabalhadores DESPERTEM para estas condições, dissipando a névoa oportunista que cobre seus olhos.
Sem a concretização de uma aliança proletário-camponesa, não haverá qualquer revolução em um país com as características do nosso. É preciso que a bandeira reformista da Reforma Agrária, seja transformada na bandeira da Revolução Agrária; é preciso que, de fato, os proletários liderem as massas camponesas, e que uma política proletária surja no campo. É isto, companheiros, ou não será NADA. Esta verdade, embora soe dura para ouvidos acostumados e conformados ao status quo desta existência miserável, é a única verdade realmente libertadora. Torna-se evidente a cada dia que passa. Companheiros proletários, nossa luta deve é possível, assumamos nossa tarefa histórica, um fardo pesado, mas que é nosso DEVER. REVOLUÇÃO AGRÁRIA JÁ!  GUERRA POPULAR PROLONGADA PELA ELIMINAÇÃO DO LATIFÚNDIO SEM INDENIZAÇÃO!
NOSSO MAIOR INIMIGO ESTÁ DENTRO DE NÓS: CHAMA-SE MEDO.

Quebremos nossos grilhões! Façamos o que a nós nos diz respeito! Despertemos!