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terça-feira, 24 de abril de 2012

O beco sem saída do Bolivarianismo


Bolívar é essencialmente um mito. Um desses mitos fundadores de identidades nacionais. Para muitas nações sul-americanas, ele é tido como o “libertador”. Marx, em suas diatribes iconoclastas (advindas do instinto de que nenhum herói é alçado acima das massas como agente histórico sem uma enorme carga de mistificação) , já havia desmascarado a farsa. Em seu ensaio sobre Simón Bolívar, o mouro retrata o comandante liberal como um sujeito covarde, ambíguo e ambicioso que tentou capitalizar os esforços guerreiros de outros para erguer sua glória pessoal.
Não parece realmente nada surpreendente que outro caudilho oportunista de nome Hugo Chávez tenha ressuscitado Bolívar no discurso político da América do Sul. Hugo Chávez e o movimento continental bolivariano permanece em nosso espectro político como uma farsa que esconde outros interesses, mais funestos e inescrupulosos.
Chávez surgiu no cenário político venezuelano na esteira do chamado “Movimiento Bolivariano Revolucionario -200”. O MBR-200 surgiu na década de 1980 entre oficiais do exército, visando dar continuidade a tradição militar putchista que tanto se repetiu gerando tragédias singulares na política da Venezuela ao longo do século XX. O MBR-200 era essencialmente marcada por um forte apelo nacionalista e pela defesa de uma série de bandeiras liberais. A política bolivariana não visava atacar o Estado Burguês, não visava destruí-lo. Pelo contrário. Guardava imensa fé nos princípios liberais da constituição venezuelana , que eles acreditavam, estavam sendo esquecidos pelos políticos no poder. Nunca, em momento algum, o bolivarianismo abandonou sua visão negativa acerca do comunismo. Chávez foi ( e é) defensor de uma terceira via, a meia distância do capitalismo liberal e do comunismo. Na Venezuela, devido a forte dependência em relação ao petróleo, esta terceira via se concretizaria pela concentração do poder nas mãos do executivo em vistas de implantar reformas . O grande herói de Chávez, além do velho farsante da libertação colonial, era o general peruano Velasco Alvarado, a quem ele chegou a conhecer e a lançar torrentes de elogios e aprovação. Alvarado havia imposto ao Peru, uma política tipicamente bonapartista. Assim, como Alvarado, Chávez acreditava ( e ainda acredita) na primazia política do Exército na direção de uma política progressista essencialmente reformista, e fundamentalmente anti-comunista. A política bonapartista dos caudilhos latino-americanos sempre tiveram um mesmo objetivo: evitar o “flagelo” do comunismo.
Chávez reiterou esta ideologia diversas vezes: a defesa de uma negociação entre classes antagônicas, forçada por um governo militar , levado a frente por uma figura carismática e centrada no nacionalismo e reformismo. Isto é o bolivarianismo, a que, a partir de 2005 passou a se auto-denominar “Socialismo do século XXI” (qualquer semelhança com o fascismo europeu não é mera coincidência).


Hugo Chávez e seu mais fiel sócio
Sem dúvidas, o bolivarianismo venceu na Venezuela a reboque da insatisfação popular gerada contra as políticas neo-liberais fracassadas que se implantaram na Venezuela no início no final dos anos 80 e início dos anos 90. Após o fracassado putsch e a respectiva prisão, Chávez se volta para a velha política eleitoreira, até que consegue sua eleição ao Comitê Executivo da burguesia em 1998.
O desastre do neo-liberalismo em uma região com tamanha tensão entre as classes como a América do Sul , com tão altos níveis de desigualdades sociais, com tão ampla tradição autoritária e populista e com um imenso vazio na política revolucionária provocado por décadas de matanças de revolucionários comunistas, levou a este interessante fenômeno de ressurgimento de políticas nacionalistas e demagógicas . Exemplos disto se repetiram na Bolívia com a ascensão de Evo Morales, no Equador com Rafael Correa, na Argentina dos Kirchner e no Brasil e seu famigerado PT.
Porém, este novo populismo tem limites claros. Está , por assim dizer, cavando sua própria cova. O bolivarianismo encontra-se em um beco sem saída. Na Venezuela, após alimentar novos setores burgueses privilegiados que lucram criminosamente com o Petróleo, o governo bolivariano vem demonstrando sua impotência em solucionar as contradições do sistema em seus próprios termos. Cada vez mais, se aproxima de posições mais conservadoras , criminalizando os movimentos populares autônomos, controlando os sindicatos. O reformismo em uma instância, é uma ilusão alimentada por aqueles que pensam que podem simplesmente frear a luta revolucionária dos povos. Este mesmo fenômeno, plenamente compreensível dentro da dialética materialista, pode ser observado igualmente na Bolívia e no Equador. A esquerda que se prende ao espetáculo fajuto do bolivarianismo se prende a um mito político montado em um ambiente político em que os revolucionários são intencionalmente isolados das massas, para que assim a inércia seja dominante e um projeto de poder criminoso se estabeleça.
Não há qualquer forma de socialismo na Venezuela. O poder não é dos proletários, mas sim de Chávez e das forças armadas, e fundado nos lucros petrolíferos. A esquerda permanece alijada do poder ou submetida aos bolivarianos. O bonapartismo pseudo-socialista tem contribuído para reduzir a luta de classes a uma retórica vazia baseada em mitos que enganam incautos em várias partes do mundo.
A luta revolucionária comunista necessariamente deverá surgir das ruínas deste “Socialismo do século XXI”. E este processo inevitável de deterioração da farsa já está em andamento. O século XXI será comunista.

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