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sexta-feira, 26 de junho de 2015

Quantos hoxhaístas são necessários para trocar uma lâmpada?



Ramiz Alia (à esquerda) e Enver Hoxha, 1982

“Se alguém estuda o Congresso albanês, vê os problemas econômicos sérios que eles têm, esse caminho que seguem não foi tomado por Ramiz Alia, mas sim por Hoxha. Hoxha escrevia em 78 que na Albânia já não existiam classes antagônicas. Sabemos muito bem o que resulta disso, pois Mao já trabalhou muito bem a questão.”

[Presidente Gonzalo, entrevista ao El Diario, 1988]



Quem de nós nunca ouviu uma piada parecida, “quantos fulanos são necessários para trocar uma lâmpada”? E você sabe quantos seguidores anti-maoístas de Enver Hoxha são precisos para resolver um problema de ordem econômica e social?
Quantos partidos seguidores do marxismo-leninismo “puríssimo” de Enver Hoxha estão atuando em guerra popular, ou melhor, fazendo revolução?

A nossa crítica se volta especialmente para o Partido Comunista Colombiano (Marxista-Leninita)/Ejercito Popular de Liberación. Nestes 50 anos do rompimento dos comunistas colombianos e sua reorganização em 1965, os 40 anos da morte do grande dirigente comunista colombiano Pedro León Arboleda, e os 40 anos de encerramento das operações guerrilheiras no Araguaia, expressamos nosso repúdio à burrice dos seguidores de Enver Hoxha, que jogaram na merda processos revolucionários que atualmente colocariam o imperialismo em xeque, como no Brasil, Colômbia, Etiópia e tantos outros lugares.

De fato, desde o seu surgimento até a cisão sino-albanesa em 1976-77, o Partido do Trabalho da Albânia prestou grande ajuda ao movimento revolucionário internacional, especialmente entre 1962 e 1978 quando a luta estava focada contra o imperialismo ocidental e o social-imperialismo soviético. Tirana, capital albanesa foi o abrigo de muitos exilados políticos, entusiastas da revolução e fortaleza contra as aberrações ideológicas surgidas em centros acadêmicos da Europa ocidental e a sabotagem revisionista no leste. A antiga rádio Tirana fazia transmissões diária em português e castelhano, revolucionários de todo o terceiro mundo se debruçavam em volta dos rádios de pilha nas selvas para ouvir as palavras de apoio e notícias revolucionárias vindas da Europa. Assim também era quando chegava o horário das transmissões em português e castelhano na antiga rádio Pequim.

Anúncio das transmissões em português publicado no antigo jornal A Classe Operária.

Até aí tudo bem, porém, a confusão político-ideológica que se seguiu após a morte de Mao mostrou a incapacidade do Partido do Trabalho da Albânia em liderar uma grande onda revolucionária em escala mundial como a China estava fazendo até o final dos anos 70. Muito mais do que ter rompido com a China, os albaneses, especialmente Hoxha culparam ao presidente Mao por esta desgraça (a restauração do capitalismo na China) e tantas outras, de modo que não foi capaz de compreender a fundo o pensamento de Mao na época da unidade entre os dois países, e em vários casos, onde Hoxha dizia ter feito “descobertas” no Marxismo-Leninismo, não passavam de cópias fajutas de artigos escritos pelo presidente Mao nos anos 30 e 50.

Toda a luta albanesa contra o “revisionismo maoísta” foi tempo perdido, nós, os maoístas somos como o rabo de lagarto, acabou-se Mao, acabou-se Lin Piao, Grupo do Quatro e o socialismo na China, porém, seguimos nos desenvolvendo por debaixo dos panos do sistema, sem entregar armas, e fazendo o possível para dinamitar o parlamentarismo burguês e todas as suas instituições que se encontram em avançado estado de putrefação. Seguimos desenvolvendo guerra popular, fazendo experimentos científicos sociais (mobilizando as massas para o boicote de eleições, criando e fortalecendo bases de apoio, trazendo elementos da massa oprimida para o nosso meio) e experimentos bélicos (aprendendo fazer bombas, trabucos, hackeando sites, ondas de rádio e tudo aquilo que a reação já conhece e tanto teme), sem precisar de urnas.

Também foi tempo perdido lutar contra uma linha ideológica que, se tivesse sido adotada pelo PTA provavelmente teria prolongado a vida do socialismo na Albânia, ou ao menos, teria motivado suficientemente as massas para voltarem às montanhas e combaterem numa guerra popular prolongada os restauradores do capitalismo.

Ramiz Alia, que foi o sucessor escolhido por Enver Hoxha, não foi capaz de salvar o país que segundo Hoxha, tinha “entrado na fase socialista” , muito ao contrário, foi o responsável pelo colapso do “ninho das águia de duas cabeças”.

A experiência hoxhaísta no Brasil

Tanto no Brasil como na Colômbia no final dos anos 70 a linha dogmato-revisionista albanesa tomou conta da cúpula dos Partidos Comunistas, colocando divisão, e freio no seio de processos revolucionários desatados no final dos anos 60 e início dos 70. Muito do trabalho árduo e sacrifício de importantes revolucionários foi colocado abaixo tanto pela linha revisionista da Albânia pós-76 quanto pela linha revisionista de Deng Xiaoping na China.

Nós comunistas brasileiros e talvez alguns camaradas de fora também conheçam o básico da história do PCdoB, que se desenvolveu como uma ruptura com o oportunismo do PCBrasileiro e a camarilha de Prestes em 1962  e que dez anos mais tarde experimentaria aplicar o princípio da guerra popular prolongada, porém devido à falta de preparo da liderança, a guerrilha ficou fadada ao foquismo e não conseguiu repor as baixas sofridas, tanto em recursos humanos quanto em material bélico, apesar de terem ferido e matado vários soldados do exército, não conseguiram capturar nenhum fuzil ou metralhadora dos fascistas. Porém, como o marxismo-leninismo-maoísmo é uma ciência, a guerrilha do Araguaia deve não deve ser considerada apenas como um ato heróico ou uma tentativa mais ou menos de se iniciar uma guerra popular, mas como uma experiência científica, cuja análise dos resultados feita por Pedro Pomar (principalmente) e Ângelo Arroyo nos revelaram como proceder de forma correta e reiniciar e/ou continuar o trabalho do desenvolvimento do exército de Novo Tipo sob o comando do Partido de Novo Tipo.

Porém, na época (1972-1976), o Partido Comunista do Brasil já estava sendo contaminado pela linha dogmato-revisionista dos albaneses, cujos principais difusores eram João Amazonas e Diógenes Arruda. Uma linha divisória entre “maoístas” e “hoxhaístas” já estava tomando forma no Partido em meados dos anos 70, se olharmos as edições do jornal A Classe Operária da década de 70, veremos um misto, entre artigos que exaltam a guerra popular, e artigos que exigem a formação de “uma assembléia constituinte e democrática”, ou seja, era a guerra popular versus o oportunismo eleitoreiro herdado dos oportunistas anteriores.

Golpes internos e especialmente externos fizeram com que a direção do PCdoB nunca mais retornasse à região do Araguaia, a não ser para buscar os restos perdidos dos nossos guerrilheiros (dizemos nossos porque não lutavam pelo oportunismo eleitoreiro, eram guerrilheiros do povo, entendiam os ensinamentos de Mao Tsé-tung até melhor do que alguns dirigentes do PCdoB que pouco tempo depois levariam o partido a abandonar o caminho da luta armada e colocariam o partido como mero apêndice do PT. Quantos partidos e organizações que bradavam revolução também se converteram ou em alas do PT ou em alas do MR-8 (hoje mais um partido eleitoreiro chamado PPL).

As primeiras experiências na América Latina e a experiência da guerra popular na Colômbia

Antes da grande ruptura entre o PCUS e o PCCh nos anos 60 e bem antes do início da guerra popular no Peru em 1980, na América Latina alguns partidos já estavam tentando aplicar a linha da guerra popular prolongada, ou ao menos baseados em levantes camponeses, como foi o caso do Partido Comunista Salvadorenho que em 1932 atuou no levante de índios e camponeses que tomou conta de metade do país, infelizmente a falta de prática levou à morte de milhares comunistas, camponeses e a quase extinção das tribos indígenas em El Salvador.

Depois do levante indígena-camponês ocorreu o levante de 1935 aqui no Brasil, diferente de lá, o levante ocorreu não em fazendas e aldeias de cidades pequenas, mas em quartéis das grandes cidades como Rio de Janeiro, Natal, e Recife. A ideia da liderança era fazer a revolução “ao contrário”, partir das cidades para o campo, o que se mostrou um erro total apesar das advertências de apoiadores internacionais do Partido Comunista no Brasil. Porém, quando o levante foi sufocado em novembro de 35, as colunas militares que marchavam para o interior se dispersaram e se organizaram em pequenas guerrilhas, sendo que a do Rio Grande do Norte que contava com um pouco mais de 30 combatentes, desbaratou vários ataques policiais e resistiu até os primeiros meses de 1936. Uns dez anos mais tarde o PCB novamente organizaria núcleos do Exército Popular nos levantes camponeses em Porecatu no estado do Paraná, porém, finalizaria a luta após a entrega das terras aos camponeses e a participação no meio eleitoreiro nos anos 50.

Recorte de jornal do começo dos anos 50 mostrando a foto de um soldado da polícia e um camponês pobre, as duas forças em choque no Paraná entre o final dos anos 40 e começo dos anos 50.

Outra experiência um pouco mais duradoura ocorreu no Paraguai entre 1959 e 1965 na FULNA (Frente Unida de Libertação Nacional), frente liderada pelo Partido Comunista Paraguaio, porém, devido à luta interna entre a aplicação da linha da guerra popular e do foquismo, (algumas colunas guerrilheiras atuavam como na guerra popular, e outras seguiam o modelo cubano, não havia unidade) a organização acabou desmantelada internamente e externamente em 1965, de modo que os comunistas paraguaios apoiadores da guerra popular se reorganizaram como Partido Comunista del Paraguay (PCdeP) e só conseguiriam pela segunda e última vez uma tentativa de guerra popular em 1980, que foi rapidamente contida pelas tropas fascistas de Stroessner...

Porém uma das primeiras, senão a primeira experiência completa e bem sucedida de guerra popular na América Latina antes do Peru iniciou na Colômbia. Longe da linha guevarista e na época pró-soviética das FARC e ELN, o Partido Comunista da Colômbia - Marxista Leninista reorganizado em 1965 assumiu o trabalho de constituir um Exército Popular de novo tipo entre o povo colombiano, que em pouco tempo conseguiu desatar uma guerra popular, assim, em agosto de 1966, forma-se o primeiro destacamento Exército Popular de Libertação

. Não precisou muito tempo para que o EPL colombiano se tornasse alvo das campanhas de cerco e aniquilamento do exército fascista colombiano. A primeira campanha de cerco e aniquilamento ocorreu em 1968, no qual muitas plantações, casas e vidas foram destruídas pelo exército colombiano, e naquele cerco tombou Pedro Vasquez importante dirigente do partido e do EPL. Porém, estes duros golpes forjaram o partido e o exército popular no calor da batalha, fazendo com que aniquilassem 200 soldados do exército fascista colombiano, e, até o ano de 1970 após a segunda campanha de certo e aniquilamento, o EPL já contava com 17 destacamentos guerrilheiros, segundo o informe do jornal A Classe Operária de outubro de 1975.

EPL entregando armas, anos 80.
Até aquela data, o exército popular de libertação contava ainda com áreas onde estava sendo construído o Novo Poder, através das Juntas Populares, e planificação da economia local. Este era o poderoso PCdeC-ML que trazia esperança para as massas e desbaratava batalhões do exército fascista da Colômbia. Porém, os tempos mudaram... O fim do socialismo na China, a forte influência do marxismo-leninismo escolástico e petrificado do Partido do Trabalho da Albânia levou não só os comunistas colombianos, mas também tantos outros partidos para caminhos confusos que os fizeram no final das contas entregarem as armas em trocas de “acordos de paz” e, ou, em troca de “eleições livres”. Até 1980, dentro do partido havia uma linha que defendia e aplicava o pensamento de Mao Tsé-tung, porém, naquele ano, durante o congresso do PCdeC-ML, o partido abandonou os conceitos corretos do presidente Mao alegando que “deveriam se concentrar militarmente nas zonas industriais”, porém, isto serviu como uma porta de fuga para o partido iniciar o processo de capitulação. As primeiras negociações de paz ocorreram em 1984, tendo sido rompidas em meados de 1985. Depois ocorreu uma grande deserção do EPL a partir de 1989, e desde a década de 90 o partido vem “lutando” por acordos de paz, possuindo armas modernas, mas afastado das massas, como pode ser visto neste comunicado publicado em novembro de 2014 intitulado: “MENSAGEM AO ENCONTRO PELA PAZ” E TODAS AS MULHERES E HOMENS DO POVO COLOMBIANO”.

“Nos unimos ante ao clamor por um cessar fogo bilateral e as hostilidades, assim como a derrogatória completa da legislação de guerra. Saudamos o apoio e solidariedade que brindam os povos irmãos e a comunidade internacional aos esforços por uma paz com justiça social em nosso país. Tudo isto é um grande estímulo para nosso povo e todos os lutadores para se manterem n abriga pelas conquistas democráticas”.

Tanto o partido como o EPL ainda existem, e atuam no território colombiano, porém, de uma maneira muito menos intensa do que nos anos 70 e com uma linha política muito diferente do partido organizado por Pedro León Arboleda e Pedro Vasquez. Pior do que ter abandonado o maoísmo, ter feito vários acordos de paz com as bendições dos albaneses nos anos 80, agora está a pedir trégua para o governo colombiano, disposto a entregar suas armas e desmobilizar os guerrilheiros em troca de reformas num sistema tão podre e corrompido que é o governo burocrático-buguês da Colômbia..

A solução é: mais e mais guerra popular!


Em um momento tão complexo como o deste século, onde o padrão de vida das massas se torna cada vez pior, onde os governos burocrático-burgueses estão cada vez cortando os direitos do povo, aprovando leis cada vez mais fascistas. Nesta época onde novas tropas americanas desembarcam na América Latina, e seus mercenários islâmicos causam danos ao povo do oriente médio e em várias regiões da África, o abandono da toda-poderosa luz guiadora do presidente Mao Tsé-tung, a entrega de armas não são opções, a esperança na mudança de governo através de conversações de paz com narco-governantes não é e nem será uma solução para os problemas sejam eles na Colômbia, Peru ou qualquer outro país sob as garras do capitalismo.

Este tipo de contradição (entre o imperialismo e os povos oprimidos) não será resolvida apenas com acordos de paz, não é “paz de cemitérios” como dizem os camaradas do PCP, mas a solução para o flagelo do imperialismo será a guerra popular em escala global, cada povo oprimido, o povo de cada colônia  remanescente, o povo de cada semi-colônia deve se organizar num Partido Comunista de Novo Tipo, formar um Exército de Novo Tipo e uma Frente Unida de Novo Tipo para se levantar contra o imperialismo e os seus lacaios de fora e de dentro. Esta avançada concepção delineada pelo presidente Mao não é fruto de um mero militarismo, uma simples belicosidade, mas uma tarefa urgente, que visa a solucionar problemas como desmatamentos, invasão de terras indígenas, intervenções militares criminosas, corrupção em governos, má distribuição de renda, tráfico humano, tráfico de drogas, problemas grandes e problemas pequenos que afligem ao mundo todo devido à ganância das potências e seus tentáculos de “empreendedores”. Ou você acha que os imperialistas entregariam de bandeja todas as suas fontes infindas de dinheiro? Isso só existe nas músicas dos Beatles.

A ilusão com as eleições dentro dos limites do governo burocrático-burguês ou de capitalismo avançado deve ser rechaçada pelas organizações populares e revolucionárias. Vivemos sob sistemas completamente desiguais, por dentro e por fora. Ainda que seja num contexto onde haja regimes claramente ditatoriais como as ditaduras latino americanas dos anos 70, a via parlamentar dentro dos limites do estado burguês é uma grande arapuca para quem não está bem esclarecido. Como poderemos entregar as armas para governos serviçais do imperialismo? Como deixar de lado tudo o que as velhas instituições fizeram ao povo e aos revolucionários? Entregar as armas, firmar acordos de paz e anistia com os velhos governos não é mera conciliação, mas uma grande traição à luta pela liberdade do povo!


Mesmo que os capitulacionistas que conspiram para a rendição e a ruptura consigam passar temporariamente para a mó de cima, eles não conseguirão mais do que acabar desmascarados e punidos pelo povo.

[Mao Tsé-tung, Contra as atividades capitulacionistas, 30 de junho de 1939]

2 comentários:

  1. Texto totalmente pueril. Pra começar, as acusações contra Hoxha são precárias (não há nenhuma citação dele). Falando sério: essa página é realmente comunista? Na melhor das hipóteses, está mais para anarquista.

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  2. Concordo com o texto mas devo reconhecer que ele é pouco "argumentativo". O hoxhaísmo deve ser esclarecido de uma forma mais profunda, para que se possa entender o marxismo-leninismo-maoísmo. Caso contrário, só alimentará uma briga egóica entre os maoístas e hoxhaístas.

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