Recorte da edição especial do jornal A Classe Operária, janeiro de 1977. |
Nem mesmo o “grito de independência” de um
herdeiro da família real portuguesa em 1822 e nem um golpe militar republicano
desferido em novembro de 1889 foi capaz de tirar o Brasil do atraso econômico e
social, muito pelo contrário, a “República dos Estados Unidos do Brasil”
manteve as velhas relações semifeudais. No campo, os antigos “barões”
mantiveram o seu status de poder, com seus bandos armados, explorando
cruelmente a mão de obra barata dos escravos libertados em 1888, dos imigrantes
europeus, e dos próprios brasileiros, que viviam em condições de servilismo.
Os grandes fazendeiros, conhecidos como
“coronéis”, devido a um antigo título dado pelo império, permitindo que os
fazendeiros tivessem seu próprio bando armado, eram donos de grandes lotes de
terras, obtidos através de herança, roubo e compra de camponeses pobres e
médios. Tudo isso ainda continua respaldado por uma lei decretada em 1850 onde
deixa claro que as terras devem ser obtidas através de contratos de compra e
venda, já que antes dessa lei a terra era gratuita. Mais de 160 anos se passaram
e essa lei continua intocada, assim como a existência dos “coronéis” e seus
bandos armados que respaldam o semi-feudalismo no campo.
Ainda que a igreja católica tenha
desempenhado um papel fundamental na dominação das massas e na manutenção do
velho poder, não impediu que surgissem movimentos armados liderados por
religiosos como foi o caso do Arraial de Canudos que existiu entre 1893 e 1897
quando foi destruída por uma grande ofensiva do exército, jagunços e policiais.
O mais interessante é que o Arraial de Canudos liderado pelo monge Antônio
“Conselheiro”, mantinha um sistema muito semelhante ao comunismo primitivo.
Outro caso também ocorreu na divisa entre
os estados de Santa Catarina e Paraná entre 1912 e 1916 em uma região
contestada pelos dois estados (daí origina-se o nome de Guerra do Contestado).
O conflito envolveu moradores da região que foram expulsos de suas terras após
a chegada da empresa madeireira Lumber Corporation e funcionários demitidos da
mesma empresa. O exército brasileiro junto com os guardas da Lumber Co logo
trataram de colocar um fim ao movimento liderado pelo monge José Maria, que
resistiu bravamente a ofensiva militar através da guerra de guerrilhas, impondo várias derrotas as tropas
governistas. O movimento só foi derrotado quando o exército passou a utilizar
aviões, invento então desconhecido pelos habitantes da região.
Guerrilheiros do Contestado em 1916. |
Estes conflitos deixaram claro que a
rebelião se justifica que o povo unido pode enfrentar qualquer coisa e que a
estratégia de combate se dá através da guerra de guerrilhas através das áreas
mais remotas.
Enquanto as zonas rurais estavam imersas
em combates nas zonas urbanas Don final do século XIX surgiam as primeiras
fábricas na época conhecidas como “arapuca”. Acidentes de trabalho, uso de mão
de obra infantil, salários baixos e desiguais entre homens e mulheres, eram
comuns entre o proletariado brasileiro da época. Sem contar que a maioria dos
proletários vivia em cortiços, favelas, tudo na precariedade. Não chega a ser
muito diferente do que é na atualidade, talvez até pior já que as zonas urbanas
aumentaram muito nos últimos 100 anos.
O surgimento do proletariado, somado às
péssimas condições vida nas zonas urbanas geraram as primeiras greves,
paralisações, protestos e organizações de operários, organizações anarquistas e
social-democratas radicais.
Muitas dessas organizações foram fundadas
por imigrantes vindos da Europa. Inicialmente tiveram bastante adesão, porque
em parte visavam a resolver alguns problemas do proletariado, mas eram
organizações vacilantes. Por um lado o extremo liberalismo dos anarquistas e do
outro a conciliação dos social-democratas. Com o passar do tempo, essas
organizações não foram capazes de apresentar soluções coerentes aos problemas
do povo, e consequentemente foram sendo esvaziadas ou reprimidas pela polícia.
O eco da revolução
bolchevique
Em 1917 na Rússia estourou a revolução
bolchevique, ali os operários e camponeses do velho império russo sob o comando
do Partido Bolchevique e de Lenin iniciaram a luta contra o poder imperial e a
construção de uma ditadura dos operários. Assim, foi constituída a primeira
ditadura do proletariado, espalhando medo entre os exploradores e esperança
entre os povos oprimidos.
Ainda em plena guerra civil, em 1919 foi
formada a IIIª Internacional Comunista, que ajudou a ecoar o estrondo da revolução
na Rússia czarista. Em pouco tempo partidos comunistas foram fundados em todo o
mundo, e revoluções proletárias começaram a sacudir desde o leste da Europa até
a Mongólia, onde a revolução também triunfou no começo dos anos 20. Finalmente
os povos de todo o mundo puderam ver a luz da revolução, que os
social-democratas e imperialistas tentaram apagar.
Os primeiros anos do
PCB-SBIC
Durante essa onda revolucionária no mundo
e as ações das organizações proletárias no Brasil, a mídia da época inclusive
chegou a reportar sobre a formação de um partido comunista no Brasil em 1919,
porém, a formação oficial de um partido comunista no Brasil só ocorreu três
anos mais tarde.
Os fundadores do PCB-SBIC |
Compreendendo os problemas do povo
brasileiro nas zonas urbanas e nas zonas rurais, alguns intelectuais formaram
em março de 1922 o PCB-SBIC (Partido Comunista do Brasil - Seção Brasileira da
Internacional Comunista). O surgimento de um partido comunista no Brasil foi um
salto importante para a organização dos operários e camponeses, que sempre
foram duramente reprimidos pelos lacaios do imperialismo.
O partido ainda tinha alguns problemas
ideológicos, que se apareceriam ao longo dos anos. Um dos primeiros problemas
deste partido foi a sua tentativa em participar das eleições burguesas. Porém,
o período de legalização do partido comunista durou pouco tempo, apenas 3
meses, de março a junho de 1922.
Em maio de 1925 o surgiu o jornal A Classe
Operária, “jornal de trabalhadores, feito por trabalhadores para os
trabalhadores”. Devido a repressão policial o jornal encerrou em outubro do
mesmo ano. Porém, reapareceu gloriosamente em maio de 1928 e continuou sendo
voz do PCB até ser encerrado novamente pela camarilha de prestes em 1954,
reaparecendo somente após a cisão em 1962.
Segunda edição do jornal A Classe Operária |
Ainda nos anos 20, mais precisamente em
1927, o PCB mantendo o desvio eleitoreiro vários quadros do PCB participaram do
Bloco Operário Camponês, organização legalizada que participava das eleições.
Desde a morte de Lenin, Trotski e seus
seguidores passaram a atuar na divisão e tentativa de destruição do Partido
Comunista da União Soviética, ferindo princípios básicos dos comunistas, não se
submetendo às decisões adotadas pela maioria e formando uma ala de oposição ao
PCUS dentro do próprio PCUS. A conduta anti-leninista de Trotski e de seus
seguidores resultou em sua expulsão do partidos comunista e seu exílio na
Sibéria e depois na Noruega.
Em vários partidos comunistas haviam
elementos pequeno-burgueses simpatizantes da ala reacionária criada por
Trotski, conhecida como Oposição de Esquerda.
Dentro do PCB também houve essa luta, culminando
na expulsão dos trotskistas em 1928.
O PCB como vanguarda
da luta de classes
Nos anos seguintes o PCB clandestino
procurou traçar uma linha correta, sempre buscando fortalecer e organizar a
aliança operário-camponesa na luta pela construção da ditadura do proletariado.
O partido sempre esteve a par das lutas trabalhistas que ocorriam no país, e
logo teria a adesão de personagens históricos do país, alguns permanentes,
outros temporários. Podemos citar aqui a histórica adesão em 1931 de Luís Carlos
Prestes, histórico dirigente tenentista, e um dos dirigentes da famosa coluna
Prestes, que enfrentou e enfraqueceu o governo oligarca. Infelizmente Prestes
que por muitos anos gozou de prestígio entre as massas tornou-se revisionista.
Outros personagens importantes da história do país que aderiram ao PCB foram os
escritores Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, o
arquiteto Oscar Niemeyer, e o pintor Cândido Portinari.
Em menos de 15 anos o Partido Comunista se
levantaria como uma vanguarda da luta de classes no Brasil.
No ano de 1935 ocorreu o histórico VIIº
Congresso da Internacional Comunista, onde o grande dirigente comunista búlgaro
Georgi Dimitrov lançou as diretrizes da frente unida contra a ameaça fascista,
que logo foram colocadas em prática por partidos comunistas de todo o mundo.
O Brasil naquele ano estava sob o jugo de
um governo que dia após dia se aproximava do nazi-fascismo, permitia a
infiltração de agentes do Partido Nacional-Socialista Alemão (NSDAP) no sul,
recebia dinheiro da Italia e Alemanha, e ao longo de toda a década de 30
receberia poderoso armamento da Alemanha e Itália, inclusive maquinaria para a
fabricação de fuzis, dando origem à fábrica de Itajubá, atual IMBEL.
Junto com os agentes alemães do NSDAP
estava Plínio Salgado, desertor da Coluna Prestes e líder do Partido
Integralista, um partido de orientação fascista, conhecidos como “galinhas
verdes” por causa da cor do uniforme que usavam. Na verdade esse partido não
passava de um aglomerado de paspalhões que aos poucos foi esvaziado quando seus
membros perceberam o erro que cometeram e aderiram à ANL.
A ANL
No início de 1935 foi criada a Aliança
Nacional Libertadora, tendo como presidente de honra o Sr Luís Carlos Prestes.
Tendo estabelecido a frente popular, unindo forças contra o fascismo e o
imperialismo, a Aliança Nacional Libertadora chegou a contar com mais de 1
milhão de membros, criando comitês em todo o país através do trabalho
legalizado. A Aliança Nacional Libertadora tinha um programa muito claro
resumido em 10 reivindicações muito bem formuladas e que representavam os
anseios do povo brasileiro.
Não tardou muito para que o governo apoiado
pelos nazi-fascistas fechasse a ANL, o que ocorreu em meados de 1935.
A ANL manteve o seu trabalho sob a
clandestinidade e o PCB que apoiava firmemente a ANL decidiu que já estava na
hora de fazer uma revolução, remover o governo fascista e colocar um governo
revolucionário, popular e democrático, mas, como fazer essa revolução?
A revolução no Brasil deveria se basear no
modelo de guerra popular prolongada, utilizado então pelo Partido Comunista da
China. Havia um grande potencial revolucionário entre as massas de camponeses
do Brasil. Porém, Luís Carlos Prestes preferiu não seguir os conselhos da
Internacional Comunista e traçou uma linha errônea para a tomada do poder. Ele
pensava que o prestígio adquirido durante a marcha da Coluna Prestes poderia
influenciar os quartéis de todo o Brasil. Então, a revolução no Brasil deveria
acontecer na forma de um levante ao estilo “bonapartista”. Estava claro que
essa visão errônea não conseguiria levar muito longe o levante
nacional-libertador. Então, no dia 23 de novembro de 1935 o 21º BC de Natal-RN
iniciaria a luta pela construção do novo poder. Após duros combates Natal foi
conquistada, tornando-se sede do governo popular, foi a primeira que vez que se
tentou estabelecer o poder popular no Brasil. Nos dias seguintes o 29º BC
levantou-se, mas sem sucesso, e no dia 27 chefiado pelo capitão Agildo Barata o
3º RI do Rio de Janeiro levantou-se. O 3º RI ficou conhecido como o “primeiro
regimento do Exército Popular do Brasil”.
No mesmo dia o governo popular
revolucionário de Natal havia sido derrotado após a invasão da cidade de Natal
por tropas do governo fascista.
Os remanescentes do Exército Popular foram
para as zonas rurais onde iniciaram uma guerra de guerrilhas que também acabou
derrotada justamente porque naquela época os comunistas e os militares rebeldes
não tinham experiência e nem sabiam da capacidade de se mobilizar uma guerra de
guerrilhas seguindo o modelo de guerra popular prolongada.
Apesar do erro grotesco que culminou no
desmantelamento da ANL, da prisão de quadros importantes, e da traição ao PC
durante os interrogatórios, foi a primeira vez que se tentou estabelecer o
poder popular no Brasil, as reivindicações da ANL mostraram estarem ligadas as
necessidades do povo, e por isso o povo brasileiro apoiou a Aliança e o levante
de 1935, porém, a partir do erro aprendeu-se que é através da revolução é que
se constrói o poder popular e para que a revolução tenha êxito e se mantenha
firme na luta deve-se conduzir através de uma guerra popular prolongada e uma
guerra de guerrilhas, como fizeram os “monges” no final do século XIX e início do século XX.
A quase destruição do
PC no Brasil
Após a derrota do levante de 1935,
seguiu-se um período de perseguição aos comunistas e aliancistas remanescentes.
Milhares de pessoas foram presas e torturadas pelo governo de Getúlio Vargas. O
número de prisioneiros políticos era tanto que navios cargueiros e fábricas
abandonadas foram transformados em prisões, onde julgamentos arbitrários e
torturas sempre ocorriam.
Luís Carlos Prestes acabou preso em 1936
junto com outros membros do PCB. Prestes ficou 10 anos jogado em um cárcere
imundo e incomunicável até ser solto pela lei de anistia de 1945.
A repressão seguiu ferrenha nos anos
seguintes tanto que em 1940 o partido recebeu outro golpe: vários membros
importantes foram presos entre eles Pedro Pomar, e Maurício Grabois, que um ano
mais tarde fugiram da prisão.
Os golpes que o PCB sofreu entre 1935 e
1940 fizeram com que o chefe da polícia fascista de Vargas, Filinto Muller
declarasse que o partido comunista estava “extinto”. Porém, para matar a
ideologia comunista deve-se matar todos os oprimidos da face da terra.
Em São Paulo no ano de 1943 foi organizada
a Conferência Nacional de Organização Provisória (CNOP), conhecida também como
conferência da Mantiqueira, onde o partido comunista pôde ser reorganizado a
nível nacional. O partido voltaria com força durante as campanhas em favor da
luta dos Aliados contra o nazi-fascismo durante a 2ª Guerra.
Fortalecimento do PCB
e os desvios de direita
Com o golpe militar de Eurico Dutra em
1945 o governo fascista de Getúlio Vargas foi substituído por um governo
liberal ao estilo norte-americano, essa época é conhecida nos livros de
história burgueses como “redemocratização”.
O general Eurico Gaspar Dutra foi eleito
presidente e exerceu seu mandato de 1946 a 1950.
O PCB foi legalizado em 1945 e pode
participar das eleições, até 1947 quando o governo de Eurico Dutra, seguindo a
linha da paranóia anticomunista rompe relações com a URSS e manda caçar o
mandato dos deputados eleitos pelo PCB. Muito mais do que a cassação, vários quadros
do PCB foram presos, torturados e assassinados pela repressão “democrática”.
Quando Brownstein, líder do Partido
Comunista dos Estados Unidos lançou as teses que dariam origem ao revisionismo
contemporâneo, Luís Carlos Prestes recebeu a notícia com certo entusiasmo,
considerando-as como “novidades”.
A partir de então, o PCB passaria por um
processo contraditório, ora passaria a preparar núcleos de um exército popular,
ora buscaria alianças com Getúlio Vargas, e Juscelino Kubitscheck para tentar
recuperar o registro eleitoral.
A partir de 1948 o Partido Comunista
atuaria fortemente nas zonas rurais, organizando os camponeses na luta pelas
suas terras. Graças ao trabalho do PCB junto às massas foram organizados os
primeiros sindicatos de trabalhadores rurais, e as futuras Ligas Camponesas.
Vale destacar o trabalho desempenhado pelo
PCB na cidade de Porecatu, estado do Paraná, onde foram organizadas milícias
camponesas e células do exército popular, que chegaram a entrar em combate com
a polícia e com os bandos armados pelos fazendeiros locais. Apesar da luta
camponesa ter obtido êxito em conquistar e legalizar a posse de terras, o
Partido Comunista foi abandonando a luta armada no início dos anos 50. A partir
de então a linha revisionista de Prestes passaria a buscar a aproximação com o
governo burguês para tentar obter legalidade.
As coisas tornaram-se piores após a
realização do XXº Congresso do PCUS onde delegações de diversos partidos
comunistas assistiram perplexos às acusações infundadas que Kruschov lançou
contra a figura de Stalin, a marxismo-leninismo. A subida da linha oportunista
de Kruschov traria problemas ao socialismo na União Soviética e a todo o
movimento revolucionário. A linha oportunista defendida pelos revisionistas
soviéticos passaria a se manifestar na maioria dos partidos comunistas,
originando dissidências.
No PCB não foi diferente. As notícias do
desastroso congresso do PCUS chegaram aos ouvidos do Partido Comunista antes da
volta da delegação brasileira que estava na URSS. No início o partido tentou
desmentir as acusações, porém, quando a delegação brasileira que esteve na URSS
confirmou as teses revisionistas que foram lançadas pela camarilha de Kruschov.
A primeira cisão kruschovista ocorreu em
1957, quando o ex-capitão Agildo Barata e um pequeno grupo saíram do Partido
Comunista. Até esse momento, a cisão ocorrida foi esporádica. Porém, a tensão
estava apenas começando.
Desde 1958 o PCB estava apresentando
sérios desvios de direita, baseados nas teses oportunistas de Kruschov tendo
Prestes à frente. Isso ficou claro durante a “declaração de março de 1958”, e
durante o V Congresso do PCB, realizado em 1960, onde Prestes e sua camarilha
tentaram difamar e remover os quadros marxistas-leninistas do comitê central.
Em 1961, desobedecendo ao estatuto do
Partido, formulado durante o IVº Congresso (1954), a camarilha de Prestes para
poder recuperar o registro eleitoral, cria um novo estatuto para o PCB que
sequer cita o marxismo-leninismo e a ditadura do proletariado (muito parecido
com o atual “programa socialista para o Brasil”, do PCdoB), modificam o nome do
partido para Partido Comunista Brasileiro,
passando a idea de que o Partido Comunista não é uma organização
internacionalista.
O PCB e o PCdoB
Reunião do PCdoB reorganizado, em 1962. |
Assim, em fevereiro de 1962 reaparece o
Partido Comunista do Brasil (adotando a sigla PCdoB), resgatam o jornal A
Classe Operária e a visão revolucionária.
No início o partido ainda tinha alguns
problemas ideológicos que ainda o assemelhavam com o PCBrasileiro de Luís
Carlos Prestes. Ainda não estava clara a
luta contra o revisionismo soviético, contra o cretinismo parlamentar e contra
o reformismo cubano. Ao longo dos anos 60 algumas questões seriam resolvidas e
a linha política do partido ia se tornando clara e justa, porém, novos
problemas iam surgindo e o PCdoB ainda herdava alguns vícios do PCB de Prestes.
Rechaçando as críticas feitas por
Kruschov, publicada no jornal A Classe Operária com o título “Respondendo a
Kruschov” em 1963 o Partido Comunista do Brasil aos poucos resgatava a combatividade
marxista-leninista.
Aproximando-se da China e da Albânia, que
na época eram baluartes da revolução proletária mundial, o PCdoB envia sua
primeira delegação para China em 1963. O presidente Mao Tsé Tung recebeu
pessoalmente os membros do comitê central e ainda declarou: “Vocês, são a esperança do povo do Brasil”. O
próprio Mao Tsé Tung compreendia que apenas um partido comunista militarizado
sob a luz da filosofia revolucionária marxista-leninista poderia levar a
esperança ao nosso povo.
Em 1964 o Partido Comunista do Brasil
começou a enviar seus membros para a China, onde recebiam instrução política e
militar na escola militar em Shanghai. Mais uma vez, o Partido Comunista
rechaçava o oportunismo de direita pacifista e iniciaria o caminho para a construção
poder popular revolucionário. Outras delegações do PCdoB seriam enviadas à
China em 1965 e 1966.
O Partido Comunista do Brasil continuaria
a crescer e receberia mais quadros destacados. Em 1965, Diógenes Arruda, membro
do CC do PCB aderiu ao PCdoB. Em 1968 um grupo de comunistas dissidentes do PCB
e do PCBR da Guanabara aderiram ao PCdoB. A Ação Popular Marxista-Leninista,
grupo que inicialmente era formados por jovens católicos de esquerda, enveredou para o caminho do
marxismo-leninismo-pensamento Mao Tsé Tung e integrou-se ao PCdoB a partir de 1973.
Dissidências
revolucionárias
Em 1966, a Revolução Cultural Proletária
não só estava abalando a China como também o mundo todo, principalmente o
movimento comunista internacional. O caráter universal da revolução cultural
estava sintetizado na Carta dos 16 pontos publicada em agosto de 1966 pelo
PCCh.
Lideranças burguesas estavam sendo
afastadas de todos os partidos comunistas que estavam sob a luz do pensamento
Mao Tsé Tung e frações revolucionárias surgiam dia após dia ao mesmo tempo em
que se preparava ou se iniciava a guerra popular em todo mundo, desde as
montanhas da Colômbia até os arrozais do Camboja.
Nessa época em que o proletariado de todo
o mundo estava prestes a entrar em fase de ofensiva, foi realizado no Brasil o
VIª Conferência Nacional do PCdoB.
Como infelizmente o Partido havia herdado
vícios burocratas e reformistas do PCB de Prestes, quer dizer, o Partido não
deu devida atenção nas questões ideológicas que surgiram naquela época então o
PCdoB sofreu a perda de vários membros durante a conferência realizada em 1966.
Os quadros que se afastaram do PCdoB formaram dois novos partidos revolucionários:
o Partido Comunista Revolucionário no nordeste e o PCdoB-Ala Vermelha atuante
na região sul e sudeste.
Com uma linha correta apresentada pela
“Carta dos 12 pontos” e mais tarde sintetizada no documento “estatutos e
programa”, o PCR sob o comando do jovem Manoel Lisboa e do veterano Amaro Luiz
de Carvalho iniciou as atividades em fins de 1966, possuía o próprio periódico,
revista, e nos anos seguintes iniciou o trabalho de preparação da guerra
popular, que iniciaria no nordeste. O trabalho de preparação era difícil,
porque havia dois grandes problemas: a forte repressão e o medo das populações
locais. Porém, o trabalho difícil ia dando seus frutos e as células de um
Exército Popular estavam sendo desenvolvidas. Outro grande marco foi a criação
de um serviço popular de inteligência, e a utilização da propaganda armada e
ações de expropriação nas zonas urbanas.
Manoel Lisboa, líder do PCR, maoísta e combativo. |
Ao longo de toda a década de 70 o Partido
Comunista Revolucionário sofreu sérios golpes, principalmente depois da morte
de Manoel Lisboa em 1973. O partido enfraquecido ideologicamente integrou-se ao
MR-8 em 1979 e ao PT.
O PCdoB-AV por sua vez, ao romper com o
PCdoB, publicou um documento onde criticava as concepções errôneas do manifesto
“União dos brasileiros para livrar o país da crise da ditadura e da ameaça
necolonialista” aprovado pelo CC do PCdoB durante a VIª Conferência. Vale
ressaltar que anos mais tarde João Amazonas teria se declarado responsável por
esse documento junto com Maurício Grabois.
Entre 1968 e 1971 o PCdoB-AV fez ações de
expropriação, propaganda e luta armada através do GEN (Grupo Especial
Nacional), que era o braço armado do PCdoB-AV. Os desvios foquistas quase
levaram o partido a extinção, até momento em que fizeram uma autocrítica a
respeito das concepções errôneas em 1974.
Guiando-se cada vez mais pelo “pensamento
Mao Tsé Tung”, o partido que desde 1967 publicava o jornal “Guerra Popular”,
formou um grupo de estudos das obras de Mao Tsé Tung.
A maior parte de seus membros vivia em
bairros pobres, onde estavam em contato direto com a classe operária, e o
partido operava nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais,
Bahia, Espírito Santo e Ceará.
Com a pesada repressão contra a maior
parte dos quadros destacados, o PCdoB-AV aderiu ao PT em 1979, partindo para
desvios eleitoreiros o partido foi sendo absorvido pelo oportunismo e
desapareceu em meados dos anos 80.
O caminho da luta
armada e a Guerra popular no Brasil
No dia primeiro de abril de 1964 os militares
derrubaram o então presidente João Goulart e criaram um governo extremamente
repressivo de caráter fascista e submisso aos interesses do imperialismo.
Enquanto o Partido Comunista do Brasil preparava a
resistência e rechaçava o governo militar, o partido de Prestes cruzava os
braços perante os golpistas orquestrados pela CIA, Prestes inclusive declarou
que eles não ficariam muito tempo no poder. Enganou-se.
Prestes teve que se exilar na União Soviética em 1969,
o mesmo ano em que tropas soviéticas invadiram o território chinês, e foram
rechaçados pelas tropas do Exército Popular de Libertação, mais que uma derrota
militar, foi uma derrota ideológica, onde o social-imperialismo de Brezhnev foi
rechaçado pelo povo chinês em plena Revolução Cultural Proletária.
Em 1968, Pedro Pomar, que era um destacado membro do
comitê central escreveu o grandioso documento “Guerra popular- o caminho da
luta armada no Brasil”, onde deixava claro que o Brasil necessitava de uma revolução,
com base na guerra popular prolongada, deveria iniciar no interior e partir do
interior poderia estabelecer o cerco à cidades médias e grandes, a guerra teria
um caráter prolongado e deveriam ser construídas bases de apoio. Foi um grande
avanço para o Partido Comunista ter definido uma linha correta sobre a
revolução no Brasil.
Uns três anos antes de Prestes fugir para “o colo de
Brezhnev”, o PCdoB enviou quadros destacados para o norte e nordeste a fim de
estudarem o terreno e constituírem bases de apoio e núcleos guerrilheiros.
Infelizmente os camaradas da região nordeste seriam descobertos pelos
fascistas. Então, entre 1966 e 1972 pelo menos 80 camaradas foram para o norte
onde formaram as Forças Guerrilheiras do Araguaia (ForGA). As FORGA operavam
com 3 destacamentos (destacamentos A,B e C), possuíam hino e bandeira. O hino e
bandeira ou acabaram perdidos durante a guerra popular ou foram ocultados pela
atual camarilha revisionista.
A guerra popular iniciou em 12 de abril de 1972 entre
os estados do Pará, Maranhão e Tocantins, a região também é conhecida como
“Bico do Papagaio”. Durante 2 anos os guerrilheiros resistiram bravamente às
campanhas de cerco aniquilamento, que no total reuniram cerca de 25 mil
soldados do exército fascista (o número aumentou quando outros 10 habitantes
locais aderiram às FORGA).
Um dos destacamentos mais famosos foi o destacamento
B, comandado por Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, um negrão de quase 2
metros de altura, campeão de boxe pelo Vasco da Gama, ex-oficial da reserva e
um dos membros da delegação brasileira que fez o curso político-militar em
Shanghai. Em torno de Osvaldão que era bem
conhecido pelos habitantes da região corriam certas histórias, como por
exemplo, a de que ele podia se transformar em pedra, em árvore ou em animal. De
qualquer forma, Osvaldão foi um grande comandante, responsável por romper o
cerco de milhares de soldados em 25 de dezembro de 1973.
Camarada Antônio e sua esposa, camarada Dina, no Araguaia. |
A guerrilha operou durante 2 anos, que serviram para
mostrar os erros e os avanços da condução de uma guerra popular prolongada no
Brasil, pode-se dizer que foram mais êxitos do que acertos. Em um relatório
feito em 1976, o camarada Ângelo Arroyo, membro da Comissão Militar, destacou
que a guerrilha tinha apoio de 90% da população local, porém, não apresentou os
erros a fundo como fez Pedro Pomar. O camarada Pomar destacou que o principal
problema da guerrilha do Araguaia foi o desvio foquista, destacando que a guerra
popular é uma guerra de massas, e deve contar com a adesão das massas mesmo em
seu período inicial. Porém, ambos destacavam a importância da continuação da
guerra popular prolongada a aproximação com as massas e a correção de outros
problemas menores que consistiam em melhorar o preparo dos guerrilheiros,
aumentar a vigilância e capturar de armas automáticas.
Infelizmente os quadros revolucionários do Comitê
Central do PCdoB acabaram covardemente assassinados em dezembro de 1976 quando
se reuniam em uma casa no bairro da Lapa em São Paulo. Os militares no
capturaram alguns quadros antes da reunião e durante a reunião fuzilaram os
remanescentes. Naquele dia morreram Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista
Drummond que morreu sob tortura.
Em dezembro de 1976 João Amazonas que era membro do
Comitê Central estava na Albânia, e junto com Diógenes Arruda reorganizaram o
PCdoB na Albânia, onde trataram de por um fim no debate que seguia a respeito
da guerrilha do Araguaia.
Em 1978 ocorreu a VIIª Conferência do PCdoB, que
transformaria o PCdoB revolucionário em um partido oportunista, eleitoreiro e
anti-maoísta. Nos anos seguintes ficaria bem claro o ecleticismo do PCdoB e sua
servidão ao dogmato sectarismo de Enver Hoxha.
Aos poucos os quadros do PCdoB iam se
afastando, em 1979 ocorreu uma ruptura no PCdoB que originou o Partido
Revolucionário Comunista, que logo foi engolido pelos oportunistas do PT e
converteu-se em uma mera ala trotskista em meados dos anos 80.
A última vez que o PCdoB voltaria a falar
em luta armada foi em 1983, de modo reservado e pouco esclarecido. É claro que
João Amazonas não falaria mais em luta armada, pois na década de 80 ele estava
ocupado em “derrotar” o maoísmo, “salvar o PT da ameaça trotskista” e divulgar
a Albânia como sendo “o farol do socialismo”.
Quando Enver Hoxha morreu, em 1985, seu
cargo foi assumido por Ramiz Alia, que havia jurado perante o cadáver de Hoxha
que manteria a Albânia no rumo do socialismo. Claro que Ramiz não cumpriu o
prometido, e pouco tempo depois tratou de aplicar planos políticos e econômicos
semelhantes aos de Gorbachov. O “socialismo” e o Partido do Trabalho da
Albânia, não se mostraram tão firmes como Hoxha apresentava, e o pior, todo o
trabalho feito pelo proletariado albanês foi desmantelado pela própria direção
do PTA.
Assim, João Amazonas e seus seguidores, no
maior ecleticismo, passaram da negação do pensamento Mao Tsé Tung para a
negação do Hoxhaísmo no final dos anos 80 e o apoio inicial ao governo de José
Sarney. O que mais espanta é que em 1989, quando Deng Xiaping e a casta de
antimaoístas do PCCh estavam massacrando estudantes e operários na praça de
Tian An Men, o PCdoB resolveu restabelecer laços com PCCh, revisionista e
contra-revolucionário, igualzinho ao PCdoB aqui no Brasil.
Porém, é na década de 90 que o PCdoB
tiraria sua máscara de comunista e assumiria a diretriz social-democrata atual
mesmo depois da morte de João Amazonas em 2002.
Usurpando o grandioso título de
“comunista”, o partido nada mais é do que um agrupamento de social-democratas e
revolucionários arrependidos e traidores, como os demais partidos que aderiram
ou simpatizam com o cretinismo parlamentar.
Amazonas e Lula no começo da década de 80 |
A página da web publicada pelo PCdoB, o
vermelho.org que recebe alguns elogios por seu discurso “antiimperialista”, não
passa de um discurso vazio, principalmente porque não consideram a China como
país imperialista, e porque se apóiam em governos parlamentares, que agem dentro
dos limites da democracia burguesa, que como se sabe, é a base para a
continuação do semi-feudalismo e semi-colonialismo. Apesar de se dizerem
leninistas, fogem dos princípios mais básicos desenvolvidos por Marx e Lenin. Esquecem
ou escondem a verdade dita por Lenin, de que “o combate ao imperialismo sem o
combate ao oportunismo não passa de fraseologia oca”.
O jornal A Classe Operária, que outrora
era luz perante as trevas da mídia burguesa, agora não passa de um mero folheto
de propaganda do governo, onde mostra proletários e camponeses felizes com suas
péssimas condições de vida porque recebem um auxílio mínimo do governo. O mais
ridículo é a mentira contada de que a “economia está aquecida e a felicidade do
povo está em alta”. Ora, ser ingênuo é até perdoável, mas os mentirosos são
dignos de ódio.
Mais absurdo do que as campanhas e as
mentiras ditas a mando do governo latifundiário, é o “programa socialista para
o Brasil”, que não passa de um plano de conciliação entre classes, entrega do
Brasil ao imperialismo, aliança com regimes social-fascistas da Bolívia e
Equador, além do apoio ao exército fascista, que segundo eles, está
“comprometido em defender a democracia”.
Chega a ser irônico que o mesmo partido
que publicava livros de Enver Hoxha atacando o eurocomunismo, tenha se tornado
um partido tão fascista e tão oportunista como os partidos de Thorez,
Togliatti, e Carillo citados no livro de Enver Hoxha, “O eurocomunismo é
anticomunismo”. E pensar que esse processo ocorreu debaixo da fuça do Partido
do Trabalho da Albânia.
O PCdoB que tanto atacava o oportunismo do
PCB e de Carlos Prestes, nos últimos tempos está retomando a figura de Prestes,
sem críticas, como se nada tivesse acontecido, como se Prestes sempre tivesse
se mantido como um “revolucionário”. Talvez essa retomada tenha se dado porque
o PCdoB atual, os kruschovistas e toda a ralé de oportunistas estão “falando a
mesma língua” agora. Língua sem letras, apenas números cifrões.
João Amazonas e seus capangas não traíram
apenas ao comunismo, traíram o proletariado brasileiro.
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